quarta-feira, 24 de novembro de 2010

-Crítica a um croqui autoral-



Em um trabalho da faculdade Senai Cetiqt, na matéria de Projeto e Varejo pela professora Rosanna Naccarato, foi pedido para que se coletasse informações da identidade de marcas escolhidas como: Farm, Espaço Fashion, Maria Bonita, Osklen entre outras. Essas informações deveriam ser sobre publico alvo, vitrine, a decoração da loja, a iluminação, mídia, papelaria, disposição das roupas nas lojas, materiais, ou seja, elementos da loja e da marca que formam a identidade. Depois da pesquisa e coleta de dados, o resultado do trabalho era saber identificar e usar estas características através de uma foto coletada de revista para representar cada marca, que não fosse da própria, analisando a roupa e atitude da modelo e fazer dois croquis formando um mini bloco coordenado; ou seja, fazer dois croquis que tivesse alguma semelhança com a foto e com a marca.
A foto acima foi retirada de uma revista com o objetivo de representar a marca de roupa Espaço Fashion.  Durante a pesquisa características foram coletadas. O público alvo gira em torno de mulheres jovens e/ou com espírito jovem, a decoração da loja pode ser considerada “clean”, a trilha sonora é semprecomposta com músicas “pop” hip hop, ou que estão fazendo sucesso para o público jovem e além disso,entre outras coisas, peças de roupa com paetês, shorts e peças curtas faziam parte da coleção. A foto apresenta estes elementos e que foram mantidos nos dois looks criados para formar um mini bloco coordenado.
Os três looks acima seguiram a identidade da marca e poderiam fazer parte da coleção. Os três mantêm as características de serem curtos, joviais, todos têm paetês e poderiam fazer parte de uma coleção de verão, pois são de materiais que não esquentam. A proposta do mini bloco coordenado foi realizada.

Resumo do texto: “Considerações sobre uma estética contemporânea”

O ser humano sempre foi um ser de símbolos, vivendo e construindo novos imaginários, como sonhos, mitos e pelos processos criativos. A estética visual contemporânea ou pós-moderna vem tendendo à multimídia, à mistura, à hibridação, constitui-se basicamente na inclusão dos mais diversos estilos visuais, tanto antigos quanto novos, elitistas ou populares, gerando uma rede de muitos diferenciais visuais estéticos. É possível perceber que as imagens do contemporâneo não se preocupam em apresentar pureza estilística ou em apresentar soluções inéditas de vanguarda, pois é o resultado da intertextualidade, da citação, da cópia, da hibridação e vários estilos; Tolera a imperfeição, a imprecisão, a poluição, e as interferências externas pós-produção, valorizando a comunicação e as emoções dos grupos e ironizando sutilmente decretos e estereótipos visuais hegemônicos e banalizados da alta cultura. Novas categorias passaram a fazer parte do pensamento estético; a ironia e o grotesco passam a ter novos significados. O que implica que o belo é estético, mas nem todo estético é belo. Por mais racionais que tenhamos que ser, dificilmente as emoções deixam de participar de nossos julgamentos (estéticos ou não) e de nossa ações. Mas isso não quer dizer que tudo é esteticamente belo no mundo contemporâneo; há que saber encontrar o ponto chave para o encontro do prazer estético no mundo globalizado hoje, conhecer as manifestações iconográficas do homem, descobrir que a necessidade de autonomia que o ser humano quer representar exige uma reflexão maior sobre o estético existente no pós-moderno.
O estabelecimento de relações entre o que é e o que poderá a vir a ser, não mais depende apenas das teorias desenvolvidas, mas da união entre conhecimento, emoção, imaginário, participação, interação do próprio eu com o objeto ou forma visual.

Profª Dra Maria Beatriz Furtado Rahde e Jaqueline Dalpizzolo

JUM NAKAO, O DESFILE E A COSTURA DO INVISÍVEL (EXERCÍCIO KANT)



Jun Nakao (São Paulo, 1966) é estilista e diretor de criação, e inicia sua formação através do CIT-Coordenação Industrial Têxtil (onde tem os primeiros contatos com a área de moda) e posteriormente cursa licenciatura em Artes Plásticas, extensão universitária em História da Vestimenta no Instituto de Musicologia de São Paulo e História da moda no SENAC.
O brasileiro neto de japoneses, em 1996 é considerado a grande revelação da 6ª edição Phytoervas Fashion e por seu destaque, ocupa o cargo de diretor de estilo da Zoomp. Em 2002, é convidado para ser o estilista parceiro no Projeto Internacional Hotel Lycra.
Em 2004, Jum Nakao participa do São Paulo Fashion Week, onde apresenta o que viria a ser um dos mais impactantes desfiles. A princípio o estilista, durante o seu processo de criação, não revela nada além do uso do branco, bordados e tecidos tecnológicos, até então gerando uma expectativa que corresponderia a um desfile “tradicional”.  Estas informações seriam extremamente necessárias para enfatizar a real proposta do desfile que era gerar um impacto surpreendente, um deslumbramento intenso e o caos, seguido por um sentimento de vazio. Com a entrada da primeira modelo, este impacto surpreendente é alcançado, pois ao invés de “roupas tradicionais”, ou seja, de tecido no caso branco e com bordados, surge uma modelo que só poderia ser identificada como um boneco lúdico playmobil vestida com uma roupa branca, mas que era de papel vegetal. Depois de passado o impacto surpreendente, houve o momento de deslumbramento intenso, onde todos puderam apreciar o minucioso trabalho da elaboração da superfície, as formas e ‘rendas’, que foram inspiradas no final do século XIX e início do século XX com a estética art noveau e estudos volumétricos. Além disso, as modelos estavam todas com um collant preto, por baixo das roupas de papel, que começava no pescoço e ia até os pés e com a mesma peruca de plástico que era uma alusão aos bonecos playmobil, o que possibilitou uma identificação dos espectadores com qualquer modelo e gerou a idéia de reprodutibilidade do playmobil dando foco as roupas únicas e não a um momento, ou modelo do desfile. A maquiagem também foi outro fator importante para enfatizar o conceito da reprodutibilidade e do lúdico, pois todas as modelos também estavam com a mesma maquiagem que dava a impressão delas serem feitas de plástico com as sobrancelhas e boca bem marcadas e pintadas de preto e os cílios de branco, que também passavam uma idéia de distanciamento. O cenário também era de papel (papel vergê), em forma de cones que juntos pareciam ter vida, pois pulsavam luzes coloridas. Durante estes dois momentos do desfile (o impacto surpreendente e o deslumbramento intenso) a iluminação se mantinha como de galerias de arte, e a trilha sonora tinha uma mistura de música popular com tango, batidas secas e repetitivas, gerando suspense. Após a saída da última modelo da passarela, a trilha sonora mudou. Agora havia uma idéia de vazio, de eco e muito suspense. Todas elas voltaram e ficaram enfileiradas, intensificando a grandiosidade do trabalho uma ao lado da outra. Ao som de uma explosão seguida de ruídos e uma iluminação como flahes bem aterrorizante, acontecia o momento caos do desfile. O grandioso e frágil trabalho que consumiu meia tonelada de papel vegetal e 700 horas de trabalho de uma equipe de mais de cem pessoas, foi destruído, rasgado, literalmente picotado pelas próprias modelos, que só souberam que as rasgariam poucas horas antes do desfile.
Era o fim do desfile. As modelos deixaram a passarela sem nenhum pedacinho de papel em seus corpos. A extrema emoção dominou todos que estavam presentes, sucedida por uma imensa sensação de vazio. Aquilo que foi papel se transformou em forma, em desejo e voltou a ser papel; mas mesmo assim vai durar para sempre.
A intenção de Jum Nakao foi trazer o questionamento sobre o consumo, a materialidade, o valor da moda e da arte. Quis mostrar que o que tem mais valor é o invisível, que “Precisamos desnudar a nossa alma para revelar a capacidade de sermos leves, sonhar com indivisíveis, impossíveis, inexplicáveis, indefiníveis. E associar o traço visível à coisa invisível, criando volumes, texturas, cores, palavras, desenhos, aberturas e caminhos para um novo pensamento. Esta é a costura do invisível.
               
Análise do desfile à luz da estética kantiana
Jum Nakao teve a intenção de criar uma atmosfera de expectativa e de surpresas em todo o desfile, desde o processo de criação até a sua concretização. O material escolhido pelo estilista para a confecção das roupas, como já citado, deixa o campo da objetividade, deixa de ser algo que se encaixe ao seu fim e entra no campo da finalidade e subjetividade. O papel deixa de ser papel e se transforma em forma, em contexto, em desejo e subjetividade. Ao final do desfile, o material rasgado perde o seu valor subjetivo, perde a sua finalidade e volta ao campo fim.
Quando vamos a um desfile, temos o interesse de satisfazer aquilo que estamos esperando através da trilha sonora, do cenário, da iluminação, da maquiagem, das modelos e das características das peças de roupas que correspondem a um tema. A expectativa inicial é quase sempre a mesma e em alguns desfiles conseguimos somente satisfazê-las. Mas o estilista Jum Nakao quis provocar uma quebra de expectativa com algo novo, desconhecido e surpreendente.  Este prazer interessado não pode simplesmente se satisfazer, pois foi extrapolado com a presença uma surpreendente mistura de elementos, com algo novo e desconhecido. O que pode ter sido um prazer interessado até um pouco antes do fim se tornou um sentimento puramente contemplativo.

CRÍTICA ESTÉTICA BASEADA NA TEORIA ARISTOTÉLICA DA BELEZA


Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) foi um filósofo grego do século IV a.C, período clássico da Grécia Antiga, que estudou e publicou obras de assuntos diversos, como física, metafísica, poesia, teatro, música, a lógica, ética, estética...
Em suas obras, Aristóles manisfesta um grande rigor científico que era o que embasava suas teorias. Acreditava nas coisas que podiam ser experimentadas e sentidas, em explicações palpáveis. Para ele a realidade, a verdade, dependia da experiência sensorial.
Em sua teoria sobre a Beleza, aristóteles defende que a beleza consiste em três elementos: proporção, grandeza e harmonia mas em escalas comparativas. Ou seja, para um objeto ser belo deve haver entre suas partes e em relação ao todo, uma certa harmonia, ou ordenação e deve também transmitir imponência. Seus pensamentos sobre beleza resultavam da influência dos padrões estéticos da época, em que as formas regulares, o equilíbrio, ordem, grandeza monumental, harmonia e proporção faziam parte da arte, da indumentária, da arquitetura.
O estilista mineiro Victor Dzenk em sua coleção outono-inverno 2010, utilizou como inspiração algumas referências gregas nas estampas, na cartela de cor e na modelagem (forma e caimento) de suas peças. Analisando uma das peças do desfile de Victor Dzenk (o vestido que está na foto) sob o olhar da teoria aristotélica da Beleza, o vestido, mesmo com uma estampa abstrata e sem padrão, carrega harmonia entre forma, cor e caimento, além de proporção em relação ao corpo da modelo e suas partes, como comprimento, volume e decote. Sua estampa digital, o corte diagonal na parte superior do vestido e o drapeado, transmitem a imponência que esta peça carrega na coleção. Através da experiência sensorial pode-se fazer a análise do vestido (objeto) seguindo a teoria aristotélica da beleza.

CRÍTICA ESTÉTICA BASEADA NA TEORIA PLATÔNICA DA BELEZA


A Grécia antiga por ter sido uma época de grandes filósofos e, pela filosofia tratar do estudo do mundo, do homem e reflexões de idéias, em conseqüência foi também uma época de grandes descobertas em várias áreas do conhecimento como a matemática e a ciência.
            Grande entusiasta da matemática, o filósofo Platão acreditava que a ciência dos números, a matemática, encontrava-se acima de muitas outras, empregando nela grande importância quando se tratava da representação do corpo humano nas artes. Pelos estudos das partes corpóreas e comparação destas             a formas geométricas, consegue-se a devida representação da natureza humana em sua forma “perfeita”, ou seja, devidamente proporcional e detalhada, tanto que deixava a mostra cada tendão e cada músculo com precisão.
            Considerado um dos principais filósofos gregos, Platão, em sua teoria sobre a beleza, declarava que existiam o mundo das idéias e o mundo em ruínas. O primeiro foi o lugar que a nossa alma se originou e esteve em contato com as matérias puras e imutáveis que lá existem, o segundo, se trata do mundo que temos diante dos nossos olhos. A beleza de um ser depende de sua maior ou menor comunicação e lembrança deste mundo das formas, da verdade, e do bem em suas essências, o mundo das idéias. Vale salientar que para este filósofo a verdadeira beleza está ligada a verdade, o bem e as leis morais, e quando nos damos conta disso nosso espírito se fortalece.
            A contemplação do belo, na concepção deste filósofo, é uma recordação do que a nossa alma já vivenciou no mundo das idéias e que, corrompida pelo mundo das ruínas, restou uma vaga lembrança deste outro mundo. Pela saudade destes estados puros que um dia tivemos contato, estamos sempre numa busca ou tentativa de resgatá-los ou copiá-los. Esta representação, na arte por exemplo, tinha que seguir padrões ou regras matemáticas de proporção para que se chegasse o mais perto da harmonia, do equilíbrio e do real, mesmo que aquela obra fosse, como diria Platão, uma mera cópia. Ainda que a obra apresentasse certo desconforto e assimetria, seguindo as devidas regras de proporção e aplicando os estudos do corpo humano conseguia-se o equilíbrio.
            O estilista Victor Dzenk em sua coleção de inverno 2010 inspirou-se nas ruínas da Grécia para a realização de sua coleção. Façamos uma pequena comparação dos conceitos empregados por Platão e um dos “looks” da coleção. A estampa retrata as estátuas gregas e suas devidas proporções, porém há uma certa profusão e assimetria na parte superior do vestido, onde já não se vê claramente o que são as imagens, mas mesmo assim passa-se um sentimento de equilíbrio e harmonia. A assimetria, assim como nas estátuas gregas, não é sinônimo de confusão, pode-se conseguir um resultado harmonioso com devidos estudos matemáticos, na Grécia antiga com a representação do corpo humano, e aqui, no caimento e modelagem do vestido no corpo da modelo.
            Mesmo que através da matemática se conseguisse um caimento perfeito da vestimenta ainda sim ,para o filósofo, os principais requerimentos não seriam preenchidos uma vez que no mundo das ruínas tudo que tentamos reproduzir não passam de cópias. O material do vestido mesmo sendo nobre, com o tempo está sujeito a decadência, pois não passam de fibras recordadas e copiadas do mundo das idéias. Além do mais, os ideais do bem da verdade e das leis morais idealizados por Platão, aqui, não podem ser empregados pois se trata da participação dos sentidos, e da análise a partir do objeto visto e suas características, e o que elas nos remetem.