quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CRÍTICA ESTÉTICA BASEADA NA TEORIA PLATÔNICA DA BELEZA


A Grécia antiga por ter sido uma época de grandes filósofos e, pela filosofia tratar do estudo do mundo, do homem e reflexões de idéias, em conseqüência foi também uma época de grandes descobertas em várias áreas do conhecimento como a matemática e a ciência.
            Grande entusiasta da matemática, o filósofo Platão acreditava que a ciência dos números, a matemática, encontrava-se acima de muitas outras, empregando nela grande importância quando se tratava da representação do corpo humano nas artes. Pelos estudos das partes corpóreas e comparação destas             a formas geométricas, consegue-se a devida representação da natureza humana em sua forma “perfeita”, ou seja, devidamente proporcional e detalhada, tanto que deixava a mostra cada tendão e cada músculo com precisão.
            Considerado um dos principais filósofos gregos, Platão, em sua teoria sobre a beleza, declarava que existiam o mundo das idéias e o mundo em ruínas. O primeiro foi o lugar que a nossa alma se originou e esteve em contato com as matérias puras e imutáveis que lá existem, o segundo, se trata do mundo que temos diante dos nossos olhos. A beleza de um ser depende de sua maior ou menor comunicação e lembrança deste mundo das formas, da verdade, e do bem em suas essências, o mundo das idéias. Vale salientar que para este filósofo a verdadeira beleza está ligada a verdade, o bem e as leis morais, e quando nos damos conta disso nosso espírito se fortalece.
            A contemplação do belo, na concepção deste filósofo, é uma recordação do que a nossa alma já vivenciou no mundo das idéias e que, corrompida pelo mundo das ruínas, restou uma vaga lembrança deste outro mundo. Pela saudade destes estados puros que um dia tivemos contato, estamos sempre numa busca ou tentativa de resgatá-los ou copiá-los. Esta representação, na arte por exemplo, tinha que seguir padrões ou regras matemáticas de proporção para que se chegasse o mais perto da harmonia, do equilíbrio e do real, mesmo que aquela obra fosse, como diria Platão, uma mera cópia. Ainda que a obra apresentasse certo desconforto e assimetria, seguindo as devidas regras de proporção e aplicando os estudos do corpo humano conseguia-se o equilíbrio.
            O estilista Victor Dzenk em sua coleção de inverno 2010 inspirou-se nas ruínas da Grécia para a realização de sua coleção. Façamos uma pequena comparação dos conceitos empregados por Platão e um dos “looks” da coleção. A estampa retrata as estátuas gregas e suas devidas proporções, porém há uma certa profusão e assimetria na parte superior do vestido, onde já não se vê claramente o que são as imagens, mas mesmo assim passa-se um sentimento de equilíbrio e harmonia. A assimetria, assim como nas estátuas gregas, não é sinônimo de confusão, pode-se conseguir um resultado harmonioso com devidos estudos matemáticos, na Grécia antiga com a representação do corpo humano, e aqui, no caimento e modelagem do vestido no corpo da modelo.
            Mesmo que através da matemática se conseguisse um caimento perfeito da vestimenta ainda sim ,para o filósofo, os principais requerimentos não seriam preenchidos uma vez que no mundo das ruínas tudo que tentamos reproduzir não passam de cópias. O material do vestido mesmo sendo nobre, com o tempo está sujeito a decadência, pois não passam de fibras recordadas e copiadas do mundo das idéias. Além do mais, os ideais do bem da verdade e das leis morais idealizados por Platão, aqui, não podem ser empregados pois se trata da participação dos sentidos, e da análise a partir do objeto visto e suas características, e o que elas nos remetem.

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